OLHOS VÍTREOS
Consciente de um instinto sórdido terrível,
a inércia das coisas não me aterra, entedia...
medito na lógica deste cosmo perceptível
e com o tempo sobejam o torpor, a apatia...
Sem rumo, num labirinto de perguntas oscilo
habitado por hordas de demônios subjetivos.
Sou espectro disforme, e na bruma me instilo
vagando insone por entre os mortos-vivos.
Exausto demais para suportar tudo,
rumo aos subterrâneos do absurdo...
um deus-profeta, onírico, abre a porta
e - Finalmente! – diz ele, em língua morta.
Olhos inquisidores me fitam, marcho a esmo...
no seu olhar vítreo, conheçi-me a mim mesmo!
Charles Rubowski
31/01/2004
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quarta-feira, 25 de agosto de 2010
terça-feira, 24 de agosto de 2010
HALO SENIL
7h30. Acorde, hora de morrer!
Não, não agora. Tenho que levantar, tomar banho, levar o garoto à escola.
Um pouco de
música pra motivar.
Pensamento pro dia:"Nunca argumente com um idiota. Ele te rebaixa ao nível dele e depois te vencerá com a experiência"
Acho que de Churchil, velinho esperto.
O garoto não quis ir pra escola. Sempre faz isso comigo, está virando sua especialidade.
A bateria morre. Nove da manhã e nenhum mecânico atende a ligações telefônicas. Só médicos atendem a esta hora da manhã porque não querem ser processados.
Oportunidade boa pra uma caminhada. Chamo o Táxi.
"papai, vc é bonito"
"São seus olhos, filho"
Deixo o rapazinho com a professora. Me questiono se é boa idéia deixá-lo aqui. Mas um dia ele terá que
se virar sem mim. Não há saída.
Volto a pé pra casa, paro um minuto na loja de conveniência. Duas belas mulheres reclaman ao gerente da ausência de um funcionário. Indignadas.
"que pena. Ele era muito atencioso. ótimo funcionário "
O gerente:
"era mesmo muito extrovertido. Foi algo pessoal dele, pois não conseguiu se adequar à filosofia da empresa"
Não gostei daquele sorriso do gerente, hipócrita covarde. Pra quê dizer aquilo sobre alguém sem defesa? Estou sendo piegas, sei...
Chego em casa. Carro ainda
Morto.
Mecânico judeu em seu belo guincho com uma coletânea de trilhas sonoras de diversos filmes no volume máximo.
"é que quero animar o dia",
me explicou.
"depois de trocar a bateria do carro vc vai me dar este CD"
"sabia q o John Williams fez as trilhas sonoras dos filmes do Spielberg e Lucas?", me instruiu.
"vc gosta muito?"
"gosto de associar música e cena de filme. Se a associação for instantânea é melhor"
"quanto custou tudo?"
"bom, 240 a bateria +serviço =290. Arredonda pra 300."
"ei, pra onde tá levando minha bateria?"
"bem, entende...
É que ela não presta,entende?...
vou entregar ela pra uma empresa que processa essas coisas"
"mesmo? Eu ia dar ela pro meu chefe. Acabou de me ligar. Se vc quer ela, então dá um desconto?"
"bem, entende... Já tá com desconto... entende? 30 paus"
Olho bem aqueles olhos verdes fugidios. Halo senil bem marcante.
"comprei esta bateria de vc a uns 3 meses por 240. Ela está boa. Deixe ela aqui."
Inevitável lidar com estes monstros no dia-a-dia, é uma obrigação diária da convivência social.
"Me dá seu número de conta. Hoje à noite faço o depósito. Muito obrigado. "
"que horas o senhor faz o deposito?"
"até umas 20h"
"e o meu CD, quando devolve?"
"bem ... já não sei"
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Não, não agora. Tenho que levantar, tomar banho, levar o garoto à escola.
Um pouco de
música pra motivar.
Pensamento pro dia:"Nunca argumente com um idiota. Ele te rebaixa ao nível dele e depois te vencerá com a experiência"
Acho que de Churchil, velinho esperto.
O garoto não quis ir pra escola. Sempre faz isso comigo, está virando sua especialidade.
A bateria morre. Nove da manhã e nenhum mecânico atende a ligações telefônicas. Só médicos atendem a esta hora da manhã porque não querem ser processados.
Oportunidade boa pra uma caminhada. Chamo o Táxi.
"papai, vc é bonito"
"São seus olhos, filho"
Deixo o rapazinho com a professora. Me questiono se é boa idéia deixá-lo aqui. Mas um dia ele terá que
se virar sem mim. Não há saída.
Volto a pé pra casa, paro um minuto na loja de conveniência. Duas belas mulheres reclaman ao gerente da ausência de um funcionário. Indignadas.
"que pena. Ele era muito atencioso. ótimo funcionário "
O gerente:
"era mesmo muito extrovertido. Foi algo pessoal dele, pois não conseguiu se adequar à filosofia da empresa"
Não gostei daquele sorriso do gerente, hipócrita covarde. Pra quê dizer aquilo sobre alguém sem defesa? Estou sendo piegas, sei...
Chego em casa. Carro ainda
Morto.
Mecânico judeu em seu belo guincho com uma coletânea de trilhas sonoras de diversos filmes no volume máximo.
"é que quero animar o dia",
me explicou.
"depois de trocar a bateria do carro vc vai me dar este CD"
"sabia q o John Williams fez as trilhas sonoras dos filmes do Spielberg e Lucas?", me instruiu.
"vc gosta muito?"
"gosto de associar música e cena de filme. Se a associação for instantânea é melhor"
"quanto custou tudo?"
"bom, 240 a bateria +serviço =290. Arredonda pra 300."
"ei, pra onde tá levando minha bateria?"
"bem, entende...
É que ela não presta,entende?...
vou entregar ela pra uma empresa que processa essas coisas"
"mesmo? Eu ia dar ela pro meu chefe. Acabou de me ligar. Se vc quer ela, então dá um desconto?"
"bem, entende... Já tá com desconto... entende? 30 paus"
Olho bem aqueles olhos verdes fugidios. Halo senil bem marcante.
"comprei esta bateria de vc a uns 3 meses por 240. Ela está boa. Deixe ela aqui."
Inevitável lidar com estes monstros no dia-a-dia, é uma obrigação diária da convivência social.
"Me dá seu número de conta. Hoje à noite faço o depósito. Muito obrigado. "
"que horas o senhor faz o deposito?"
"até umas 20h"
"e o meu CD, quando devolve?"
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